NOSSA VISÃO - 23/03/2020

Retrospectiva

Nem mesmo os estímulos monetários proporcionados pelos governantes globais foram suficientes para conter o pânico que se instalou nos mercados de riscos. Uma nova rodada de quedas acentuadas nos preços dos ativos foi observada, e diante disso mais programas de estímulos monetários estão sendo anunciados para abastecer a economia de recursos.

Na China, a primeira região a enfrentar a disseminação do "coronavírus", as empresas já estão retornando suas atividades aos poucos, e agora o país contabiliza os estragos na economia. A produção industrial por lá caiu 13,5% nos dois primeiros meses do ano. As vendas no varejo caíram 20,5% no mesmo período. Ambos os números vieram bem piores do que o previsto por especialistas. Pelo andar da carruagem, e pela importância da China na economia global, o golpe será sentido por todos e por muito tempo.

Na Europa, o vírus se alastra com velocidade espantosa, fazendo com que muitos países (Itália, Espanha e França, por exemplo) tomem medidas drásticas para tentar limitar o contágio. Foi decretada quarentena em muitas regiões da Europa, com restrições de locomoção (fechamento de estradas, fronteiras, aeroportos, transporte público), obrigando a população ao isolamento social.

Nos EUA, a situação é igualmente tensa, com o país registrando diariamente um número significativo de contaminação e óbitos. Enquanto isso, o Senado rejeitou o pacote de ajuda de US$ 1,3 trilhão anunciado pelo governo Donald Trump. Os Democratas alegam que os termos do pacote favorecem as empresas em detrimento das pessoas, que enfrentam desemprego e perda de renda.

Para os mercados de ações internacionais, a semana manteve a sequencia de fortes quedas. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -3,28%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, caiu -3,27%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, desvalorizou -14,98% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, perdeu -5,04%.

Por aqui, o avanço da contaminação pelo "coronavírus" segue crescente. Vários Estados e Prefeituras decretaram Estado de Calamidade Pública. O governo federal fez o mesmo, cujo texto foi aprovado pelo Congresso, que na prática permite o rompimento do teto de gastos para direcionar recursos para a saúde.

Adicionalmente, o governo federal vem anunciando uma série de medidas que visam preservar minimamente o emprego, diante do fechamento por prazo determinado de varias atividades que empregam um número considerável de cidadãos, como bares, restaurantes e eventos que costumam concentrar muitas pessoas.

No âmbito econômico, destaque para a reunião do COPOM que decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa Selic de 4,25% para 3,75%, novo piso histórico, uma redução de 0,5 ponto percentual. No comunicado, seus membros destacaram a preocupação com a trajetória da inflação, ao ressaltar que no cenário base permanecem fatores de riscos em ambas as direções.

Para a bolsa brasileira, o clima de aversão a risco seguiu os mercados internacionais. O Ibovespa encerrou a semana com queda de -18,88%, aos 67.069 pontos, acumulando desvalorização no ano de -42,00%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,027 para a venda, mesmo após várias intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Na semana, a moeda avançou 4,46% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 25,28%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com desvalorização de -4,31%, enquanto no ano é de -8,82%. No acumulando de 12 meses a valorização é de 5,22%.

Relatório Focus

No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para o IPCA deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 3,04%, ante 3,10% da semana passada. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 4,20%. O resultado continua abaixo da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa de inflação para 3,60%, ante 3,65% da semana anterior. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

Para a Selic, após o Bacen reduzir o juro para 3,75% na reunião do COPOM da semana passada, um ajuste de 0,50 ponto percentual, o mercado manteve as projeções para a taxa encerrando o ano em 3,75%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a Selic foi mantida em 5,25%. Há quatro semanas a estimativa era de 6,00%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado "top 5", as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram mantidas em 3,38%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 5,00%.

A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi mais uma vez reduzida, agora para 1,48%, ante projeção de 1,68% da semana anterior, sendo a sexta semana consecutiva de previsão pra baixo. Um mês atrás, a estimativa era de crescimento de 2,20%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.

Após sucessivas altas da cotação do dólar nos últimos dias, o relatório mostrou que a projeção para o dólar no fim de 2020 foi ajustada para R$ 4,50, ante R$ 4,35 da semana passada. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,15. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi aumentada para R$ 4,29, ante R$ 4,20 da estimativa anterior. Um mês atrás era de R$ 4,15.

Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00 pela quarta semana seguida. Para 2021, a expectativa foi reduzida para R$ 80,00, enquanto na semana anterior a previsão era de US$ 83,75 bilhões.


Perspectiva

A luz no fim do túnel está cada dia menos visível.  A bola da vez é o contágio nos EUA, que já atingiu mais de 35 mil infectados e quase 500 óbitos. Por lá, um terço da população está obrigada ao isolamento. Somente New York, epicentro da disseminação, concentra mais da metade dos casos no país e 5% do total de contágios no planeta. Conhecida como "a capital do mundo", as perspectivas para a cidade são sombrias. A cidade está a ponto de conviver com a falta de suprimentos básicos chaves. 

Enquanto isso, as autoridades monetárias continuam oferecendo estímulos à economia. O banco central norte-americano anunciou a pouco que comprará uma quantidade ilimitada de títulos do Tesouro dos EUA e títulos respaldados por hipotecas, em volume necessário para manter o funcionamento normal dos mercados, em substituição ao compromisso de comprar até US$ 700 bilhões que havia feito na semana passada.

Enquanto isso, os mercados de riscos mergulham em quedas fortes. Alguns ativos brasileiros atingiram preços de 3 anos atrás, tornando-se um atrativo para quem é investidor de longo prazo e necessita acumular reservas, não se importando com resultados imediatos.

Por outro lado, isso a que chamamos de "janela de oportunidade", e que está aberta, pode demorar um tempo maior para se fechar, a depender dos rumos da disseminação e mortalidade do "coronavírus". Isso representa dizer que os preços dos ativos estão baratos, entretanto amanhã, ou na semana que vem, ou daqui a quinze dias, podem ficar mais baratos ainda.

Assim sendo, recomendamos cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Sugerimos que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em "quarentena" esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização recente dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.



* Aos clientes que investem em Fundos de Participações e Fundos Imobiliários em percentual superior a 2,5% em cada, reduzir a exposição aos Fundos de Ações na proporção desse excesso.


Indicadores Diários -20/03/20



Índices de Referência -Fevereiro/2020