NOSSA VISÃO - 30/03/2020

Retrospectiva

Semana de alívio para os mercados de riscos, após os governos de diversos países anunciarem maciços programas de ajuda e subsídios à população e empresários para enfrentarem o período de quarentena social ampliado devido a disseminação do "coronavírus", que globalmente já atinge mais de 725 mil infectados e quase 35 mil óbitos, conforme números oficiais.

Na Alemanha, o Conselho de Ministros aprovou um crédito suplementar de 156 bilhões de euros, que na prática autoriza o governo alemão a se endividar para apoiar a economia local. Além disso, foi reativado o Fundo de Estabilização com suporte de 500 bilhões de euros para apoiar as grandes indústrias alemãs.

No Reino Unido, o governo britânico ampliou o pacote de ajuda para incluir os trabalhadores autônomos que perderam seus sustentos por conta do isolamento social. O auxílio abrange cerca de 5 milhões de trabalhadores autônomos do Reino Unido, que terão direito a uma verba de até 2.500 libras mensais.

Nos EUA, o Congresso aprovou um amplo programa financeiro de assistência, que inclui pagamentos diretos a população e ajuda aos setores mais afetados pela pandemia. O pacote, sem precedentes na história, envolve a quantia de US$ 2 trilhões, o equivalente a R$ 10 trilhões, e representa cerca de 10% do PIB norte-americano. O programa inclui a transferência de renda de para pagamento direto a pessoas e famílias e aumento dos benefícios aos desempregados e autônomos, além de um programa de crédito para pequenas empresas em condições que estimulem a manutenção de postos de trabalho.

Alguns indicadores da produção após o início da pandemia começaram a ser divulgados, e mostram o estrago que a paralisação parcial das atividades está causando na economia. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro caiu à mínima recorde de 31,4 pontos em março, ante 51,6 pontos em fevereiro, puxado pelo setor de serviços que recuou para a mínima de 28,4 pontos. Os números sugerem que a economia da região está encolhendo a uma taxa trimestral de 2%.

Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de recuperação diante da injeção maciça de assistência monetária pelos governos. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 7,88%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, subiu 6,16%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, valorizou 10,26% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 17,14%.

Por aqui, a disputa pelo protagonismo opõe governadores e Planalto na discussão sobre apertar ou afrouxar as regras de funcionamento do comércio. De um lado os governadores, que impõe duras regras que impedem, por exemplo, bares, restaurantes e shoppings de funcionar. Do outro lado o presidente Jair Bolsonaro, que defende uma flexibilização das regras, e autorizou o funcionamento de casas lotéricas e igrejas durante a quarentena, medida essa que enfrenta resistência no judiciário. O Congresso também entra na disputa e avança na aprovação da PEC que cria um orçamento paralelo que reuni todas as medidas de combate ao "coronavírus", delimitando as ações do governo.

O governo central anunciou um pacote de R$ 40 bilhões para financiar a folha de pagamentos de pequenas e médias empresas por dois meses, até o limite de dois salários mínimos por empregado. O financiamento terá carência de 6 meses e 36 meses para pagar e juros pela taxa Selic. A medida espera atingir 12,2 milhões de trabalhadores.

O Senado vota nesta semana a proposta de pagamento de auxílio emergencial por três meses, no valor de R$ 600,00, destinado aos trabalhadores autônomos, informais e sem renda fixa.

Para a bolsa brasileira, a semana foi de recuperação de parte das perdas, seguindo os mercados externos. O Ibovespa encerrou a semana com alta de 9,48%, aos 73.428 pontos, acumulando desvalorização no ano de -36,51%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,107 para a venda, mesmo após várias intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Na semana, a moeda avançou 1,58% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 27,26%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 2,60%, enquanto no ano a desvalorização é de -6,45%. No acumulando de 12 meses a valorização é de 9,16%.

Relatório Focus

No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para o IPCA deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 2,94%, ante 3,04% da semana passada. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 3,19%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,57%, ante 3,60% da semana anterior. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

Para a Selic, o levantamento semanal mostrou que a expectativa é de que a taxa básica de juros seja reduzida em mais 0,25 ponto percentual e termine o ano em 3,50%. Antes a expectativa era de que permanecesse na taxa atual, de 3,75%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a Selic foi reduzida em 0,25 ponto percentual para 5,00%. Há quatro semanas a estimativa era de 5,75%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado "top 5", as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram reduzidas ainda mais, para 3,13%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 4,50%.

A expectativa de crescimento da economia em 2020, medida pelo PIB, foi mais uma vez reduzida, agora para uma contração de -0,48%, em meio às incertezas sobre os impactos da pandemia do "coronavírus" na atividade econômica, ante projeção de 1,48% da semana anterior, sendo a sétima semana consecutiva de previsão pra baixo. Um mês atrás, a estimativa era de crescimento de 2,17%. Para 2021, o mercado financeiro manteve a previsão de expansão do PIB em 2,50%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava nos mesmos 2,50%. A expectativa do mercado é de que a economia doméstica se recupere do tombo ainda este ano. Em dezembro o BACEN atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,80% para elevação de 2,20%.

O relatório mostrou que a projeção para o dólar no fim de 2020 foi mantida em R$ 4,50. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,20. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi aumentada para R$ 4,30, ante R$ 4,29 da estimativa anterior. Um mês atrás era de R$ 4,15.

Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, a mediana das previsões para 2020 foi mantida em US$ 80,00 pela quinta semana seguida. Para 2021, a expectativa foi ajustada para R$ 81,40, enquanto na semana anterior a previsão era de US$ 80,00 bilhões.


Perspectiva

Os mercados de risco iniciaram a semana um pouco mais calmos, na esteira das medidas de ajuda financeira anunciadas pelos principais governantes, além de apoiar uma maior atenção com o distanciamento social da população para enfrentar a pandemia do "coronavírus" e achatar a curva de contágio. Nos EUA, por exemplo, o governo estendeu a quarentena até 30 de abril. Os dados ainda são incipientes, mas estudos com os dados de contágio divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que o distanciamento social tem reduzido a disseminação do "coronavírus" no estado de São Paulo, na comparação com o restante do país, ocasionando um achatamento na curva de contágio. Agora se deve acompanhar os números para observar se a tendência é confirmada.

O noticiário é positivo, porém, não sejamos ingênuos de imaginar que daqui pra frente haverá uma guinada na tendência dos mercados. A injeção gigantesca de liquidez promovida pelos principais governos não trará recursos novos para os mercados de riscos no curto prazo, porque obviamente esses recursos serão direcionados, em primeiro grau, ao sustento das famílias e ao pagamento das despesas correntes pelas empresas destinatárias dos programas, que são as empresas de pequeno e médio porte.

A agenda da semana reserva uma série de eventos a serem monitorados, e que devem adicionar elementos para mostrar o tamanho do impacto da pandemia na economia global. O principal dado, a ser revelado na sexta-feira, é o relatório de emprego dos EUA, conhecido como "payroll". As estimativas são de fechamento de 100 mil vagas de emprego em março. Só para termos uma referência, em fevereiro (antes da pandemia) foram criados 273 mil novos postos de trabalho.

Também serão revelados números da produção industrial de março na China, que deverá mostrar o ritmo de retomada do crescimento da segunda maior economia do mundo, que na última semana voltou a produzir em alguns locais na medida em que o contágio perde força por lá.

Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em "quarentena" esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.


* Aos clientes que investem em Fundos de Participações e Fundos Imobiliários em percentual superior a 2,5% em cada, reduzir a exposição aos Fundos de Ações na proporção desse excesso.

Indicadores Diários -27/03/20



Índices de Referência - Fevereiro/2020