NOSSA VISÃO - 06/04/2020

Retrospectiva

No centro das atenções dos investidores esteve a expansão do contágio "coronavírus", que já infectou mais de 1,3 bilhões de pessoas no mundo, causando mais de 75 mil óbitos. A pandemia segue fazendo estragos nos principais mercados de risco, porém em menor escala na medida em que os governos das principais economias do planeta seguem anunciando medidas adicionais de suporte a cidadãos e empresas em dificuldade.

Alguns países que dominam o cenário mundial de produção e consumo divulgaram dados que indicam uma forte contração da economia local.

Na zona do euro, a atividade industrial entrou em colapso no mês de março. Conforme divulgou a agência IHS Markit, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto, que engloba o setor industrial e de serviços, despencou para a mínima de 29,7 pontos em março, ante 51,6 pontos em fevereiro, marcando a pior queda mensal desde que o índice começou a ser divulgado, em julho de 1988. A marca de 50 pontos separa crescimento de contração. A contração foi puxada pelo setor de serviços, o mais sacrificado com o isolamento social da população, que caiu a 26,4 pontos, mínima da pesquisa, contra 52,6 pontos em fevereiro e preliminar de 28,4 pontos. 

Nos EUA, o PMI composto recuou 8,7 pontos em março. Ele foi de 49,6 pontos em fevereiro para 40,9 pontos. O resultado foi puxado, principalmente, pelo setor de serviços, que caiu de 49,4 pontos para 39,8 pontos, na medida em que negócios não essenciais estão sendo forçados a fechar, alguns indo à falência. Além disso, os bloqueios estão levando a uma redução considerável no gasto do consumidor. Já o PMI industrial, recuou para 48,5 pontos ante 50,7 pontos em fevereiro. 

O mercado de trabalho norte-americano já mostra os sinais da desaceleração acentuada da economia por lá. Conforme divulgou o Departamento de Trabalho, foram destruídos 701 mil postos de trabalho em março, ante previsão de perda de 100 mil postos. Com isso, a taxa de desemprego subiu para 4,4%, ante taxa de 3,5% em fevereiro. Estima-se que o número de desempregados é bem maior, devido à metodologia para apuração dos resultados não capturar totalmente a realidade visto que os dados foram coletados até a semana que terminou em 12 de março. Uma melhor imagem do cenário do mercado de trabalho é dada pelo relatório semanal de pedidos de auxílio-desemprego. Nas duas últimas semanas de março, cerca de 10 milhões de norte-americanos entraram com pedido do seguro.

Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de queda nos principais mercados financeiros. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, recuou -1,11%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, caiu -1,72%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, desvalorizou -2,08% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, despencou -8,09%.

Por aqui, a demora na implementação do pacote de ajuda aos mais necessitados tem motivado a disputa entre os poderes executivo e legislativo. As medidas anunciadas pela equipe econômica são dispersas e demoram a tramitar e chegar aos destinatários da ajuda. A falta de um coordenador para situação de crise fragiliza o governo, fazendo com que o legislativo tome o protagonismo cobrando celeridade do executivo. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro destoa de todos, inclusive de estadistas externos sobre o isolamento social e das recomendações da Organização Mundial da Saúde - OMS. Por conta disso, os investidores estrangeiros seguem retirando recursos da Bovespa e crescendo aposta no dólar. Até a sessão de fechamento de março, os investidores estrangeiros já tinham sacado R$ 64,3 bilhões da Bovespa neste ano.

Para a bolsa brasileira a semana foi de queda, seguindo os mercados externos. O Ibovespa encerrou a semana com recuo de 5,30%, aos 69.537 pontos, acumulando desvalorização no ano de -39,87%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,326 para a venda, mais um recorde nominal de fechamento desde a criação do Plano Real. Na semana, a moeda avançou 4,3% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 32,72%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com desvalorização de -1,57%, enquanto no ano a desvalorização é de -7,93%. No acumulando de 12 meses a valorização é de 7,04%.

Relatório Focus

No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para a inflação deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 2,72%, ante 2,94% da semana passada, quarta semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 3,20%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu a estimativa da inflação para 3,50%, ante 3,57% da semana anterior. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

Para a Selic, o levantamento semanal mostrou que a expectativa é de que a taxa básica de juros seja reduzida em mais 0,50 ponto percentual este ano, e termine o ano em 3,25%. Antes a expectativa era de que fosse reduzida para 3,50%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a Selic foi reduzida em mais 0,25 ponto percentual, para 4,75%, ante projeção de 5,00% na semana anterior. Há quatro semanas a estimativa era de 5,50%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado "top 5", as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram reduzidas ainda mais, para 3,00%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 4,00%.

Os mesmos economistas passaram a ver uma contração ainda mais forte no PIB em 2020, em meio à crise do "coronavírus". No relatório Focus desta semana, a projeção para a variação do PIB deste ano é de queda de -1,18%, contra queda de -0,48% na semana anterior. O número, porém, está longe das novas previsões divulgadas por algumas casas na semana passada, que veem a economia brasileira encolher mais de -3,5% neste ano, como consequência da parada da atividade no Brasil e no mundo, com as restrições de circulação para conter o contágio do vírus. Para 2021, a estimativa do Focus é que o país ainda cresça 2,50%, mesma projeção da semana anterior.

O relatório mostrou que a projeção para o dólar no fim de 2020 foi mantida em R$ 4,50. Um mês atrás a estimativa era de R$ 4,20. Para o ano de 2021, a projeção para o câmbio foi aumentada para R$ 4,40, ante R$ 4,30 da estimativa anterior. Um mês atrás era de R$ 4,20.

Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, os números seguem em queda. A mediana das previsões para 2020 foi reduzida para US$ 76,50, ante US$ 80,00 da semana anterior. Para 2021, a expectativa foi ajustada para R$ 80,00, enquanto na semana anterior a previsão era de ingressos da ordem de US$ 81,40 bilhões.


Perspectiva

A semana iniciou com fortes valorizações nos principais mercados de risco, em decorrência da desaceleração no número de casos de contaminação pelo "coronavírus", especialmente nos continentes europeu e asiático. Pela primeira vez desde janeiro, a China não registrou ontem nenhum óbito diário. Nos países dessas regiões, as autoridades já estudam a estratégia para reabertura dos comércios locais e afrouxamento do isolamento social.

Por outro lado, no Japão o número de casos acelerou e fez com que o governo decretasse estado de emergência em algumas regiões mais populosas do país, dentre elas a capital Tóquio. Em contrapartida, o país prepara um pacote de ajuda que prevê repasses direto de dinheiro a famílias afetadas e empréstimo a juros zero para empresas, estimado em US$ 1 trilhão, o equivalente a 20% do PIB.

Os EUA enfrentam o pico da pandemia, com crescimento vertiginoso no número de contágios. Dados atualizados informam que o número de pessoas contagiadas atingiu a casa dos 370 mil casos, levando o número de óbitos para 11 mil.

Por aqui, as perspectivas são de que o pico da pandemia ocorra entre abril e maio. Até agora, as informações são de que mais de 12 mil pessoas foram infectadas, com o registro de 553 óbitos. As medidas de isolamento social têm agido no sentido de suavizar a curva de contágio, além da imposição de fechamento do comércio não essencial e de atividades que possam agrupar pessoas. No estado de São Paulo, por exemplo, o governador João Dória prorrogou ontem o tempo de isolamento e fechamento do comércio por mais 15 dias.

Na agenda da semana, destaque para a reunião da Opep+ que tem como objetivo por fim a disputa travada entre os principais produtores de petróleo do planeta. A meta é encontrar um entendimento que limite a produção do petróleo a níveis condizentes com a demanda mundial atual, que sofreu profunda queda por conta da pandemia.

Também na agenda está a divulgação de alguns dados que já podem repercutir a desaceleração da economia doméstica. O principal será o IPCA de março, a ser revelado na quinta-feira, com previsão de alta nos preços menor que no mês anterior, podendo atingir a dos 0,10%. Também serão conhecidos dados de venda do varejo, serviços e o IBC-Br, considerado a prévia do PIB brasileiro, porém com dados antecedentes a imposição da quarentena.

Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em "quarentena" esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.


* Aos clientes que investem em Fundos de Participações e Fundos Imobiliários em percentual superior a 2,5% em cada, reduzir a exposição aos Fundos de Ações na proporção desse excesso.


Indicadores Diários -03/04/2020



Índices de Referência - Fevereiro/2020