NOSSA VISÃO - 20/04/2020

Retrospectiva

Os mercados de riscos tiveram uma semana sem grandes perdas, em meio às notícias de melhora nos indicadores chineses, com destaque para a divulgação do PIB o primeiro trimestre, além da diminuição do contágio e número de óbitos nos EUA e países da Europa, que começam a discutir o afrouxamento da quarentena e abertura do comércio. Os números mais recentes do contágio pelo "coronavírus" indicam a infecção de mais de 2,4 bilhões de pessoas no mundo, que levaram a mais de 165 mil óbitos. Os números indicam um crescimento de 30% no número de contágios e de 40% no número de óbitos em uma semana, uma redução no avanço em relação aos dados de sete dias atrás.

Conforme divulgou o Fundo Monetário Internacional - FMI, a pandemia vai levar a economia mundial a registrar em 2020 o pior desempenho desde a Grande Depressão de 1929. O órgão passou a estimar que o PIB global deva recuar -3%, ante projeção anterior de alta de 3,3% feita em janeiro.  O relatório indica que as economias desenvolvidas serão as mais afetadas. A projeção é a de que os países mais ricos tenham uma retração na atividade de 6,1%, enquanto a atividade dos países emergentes e das economias em desenvolvimento deve recuar 1% em média. O relatório prevê que a retomada será rápida, e projeta uma recuperação no próximo ano, com o PIB avançando 5,8% globalmente.

Nos EUA, foi divulgado que as vendas no varejo caíram 8,7% em março depois de recuarem 0,4% em fevereiro, devido ao fechamento do comércio como medida para reduzir o contágio da doença. A produção industrial recuou 5,4% em março, maior queda desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Na China, a agência de estatísticas local divulgou que o PIB do primeiro trimestre recuou -6,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, a primeira contração em quase 30 anos, e refletindo as perdas da paralisação quando a sociedade estava isolada. Ainda assim, o resultado ficou melhor do que o esperado pelo mercado, que era uma queda de no mínimo -7,5% no período.

Para os mercados de ações internacionais, a semana foi de recuperação de parte das perdas em meio aos primeiros sinais de desaceleração da contaminação pelo "coronavírus" na população dos países do hemisfério norte. Enquanto o Dax, índice da bolsa alemã, avançou 0,58%, o FTSE-100, da bolsa inglesa, recuou -0,95%, o índice S&P 500, da bolsa norte-americana, valorizou 3,04% e o Nikkei 225, da bolsa japonesa, cresceu 2,85%.

Por aqui, as atenções voltaram-se para a troca no comando do Ministério da Saúde, com o Deputado Federal pelo Democratas, Luiz Henrique Mandetta, deixando a pasta. Para a vaga, o escolhido foi o médico oncologista Nelson Luiz Sperle Teich, que se disse "alinhado" ao pensamento do presidente Jair Bolsonaro, mencionando que saúde e economia não competem, são complementares. No campo da política, os atritos entre os três poderes seguem no radar. Enquanto o STF decidiu pela autonomia dos governos estaduais e municipais sobre as medidas de isolamento social local, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que assegura socorro financeiro com recursos federais aos estados e municípios para compensar a queda da arrecadação, sem nenhuma contrapartida. O projeto segue agora ao Senado Federal, para apreciação.

O Senado Federal aprovou, em segundo turno por maioria de votos, a PEC chamada de "orçamento de guerra", que tem por objetivo separar, do orçamento geral, os gastos normais dos gastos emergenciais para conter os danos causados pela pandemia, afim de não gerar impacto fiscal em um momento de desaceleração da economia.

Para a bolsa brasileira a semana foi de alta, seguindo os mercados externos. O Ibovespa encerrou a semana com valorização de 1,68%, aos 78.990 pontos, acumulando valorização de 8,18% no mês, e desvalorização no ano de -31,70%. O dólar comercial encerrou a sessão de sexta-feira cotado a R$ 5,236 para a venda. Na semana, a moeda avançou 2,85% frente ao real, enquanto no ano acumula alta de 30,48%. Já o IMA-B Total encerrou a semana com valorização de 3,09%, enquanto no ano acumula desvalorização de -3,42%. Em 12 meses a valorização é de 12,21%.

Relatório Focus

No Relatório Focus revelado hoje, os economistas que militam no mercado financeiro ajustaram novamente pra baixo a estimativa para a inflação deste ano. A projeção agora é de que o IPCA encerre o ano em 2,23%, ante 2,52% da semana passada, sexta semana consecutiva de projeção em queda. Um mês atrás a previsão para o IPCA deste ano era de 3,04%. O resultado continua distante da meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 4,00%. Para 2021, o mercado financeiro reduziu ainda mais a estimativa da inflação, para 3,40%, ante previsão de 3,50% na semana anterior. Quatro semanas atrás, a previsão era de que a inflação do ano que vem seria de 3,60%. Em 2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

Para a Selic, o levantamento semanal mostrou que a expectativa é de que a taxa básica de juros encerre o ano em 3,00%, uma redução de 75 pontos base em relação à Selic atual, de 3,75%. Na semana anterior a expectativa era de que a Selic encerrasse o ano em 3,25%. Para o encerramento de 2021, a previsão para a taxa Selic foi mantida em 4,50%. Há quatro semanas a estimativa era de 5,25%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos no chamado "top 5", as estimativas para a taxa Selic em 2020 foram reduzidas ainda mais, para 2,50%. Para 2021 as apostas são de que a taxa Selic encerre o ano em 3,88% na mediana das coletas.

Os efeitos da pandemia do "coronavírus" sobre a economia brasileira fizeram os economistas cortarem novamente suas projeções para o PIB em 2020, pela décima semana seguida. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de -1,96% para queda de -2,96%. Há quatro semanas, a estimativa era de alta de 1,48%. Para 2021, o mercado financeiro alterou a previsão do PIB, de elevação de 2,70% para 3,10%, a segunda seguida. Quatro semanas atrás, estava em 2,50%. Em março, na esteira da pandemia, o BC atualizou, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 1,8% para variação zero. O próprio BC, no entanto, já reconheceu que o cenário está se alterando rapidamente e que, por isso, a projeção do RTI não reflete, necessariamente, a situação atual.

O relatório mostrou alteração no cenário para a moeda norte-americana em 2020. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano foi de R$ 4,60 para R$ 4,80, ante R$ 4,50 de um mês atrás. Para 2021, a projeção para o câmbio saltou de R$ 4,47 para R$ 4,50, ante R$ 4,29 de quatro pesquisas atrás.

Para o Investimento Estrangeiro Direto, caracterizado pelo interesse duradouro do investimento na economia, os números seguem em queda. A mediana das previsões para 2020 foram reduzida para US$ 71,00, ante US$ 73,00 da semana anterior e US$ 80,00 um mês atrás. Para 2021, a expectativa foi mantida em R$ 80,00. Há quatro semanas, a estimativa era de ingressos da ordem também de US$ 80,00 bilhões.



Perspectiva

Os mercados de ações iniciam a semana com perdas, após os investidores perceberem que o corte na produção de petróleo anunciada pela OPEP na semana passada, de 9,7 milhões de barris/dia, não serão suficientes para fazer frente à fraca demanda global por conta do impacto do "coronavírus" na economia mundial. A cotação do petróleo tipo WTI recuava abaixo de US$ 11 o barril, uma queda de 40% na cotação, em meio ao excesso de oferta e estoques no limite da capacidade de armazenamento.

 A China segue tomando medidas de estímulo visando impulsionar sua economia, que ruiu em meio à pandemia. A autoridade monetária reduziu hoje a taxa primária de empréstimo de 1 ano em 20 pontos base, para 3,85%, enquanto a taxa de 5 anos sofreu corte de 10 pontos base, para 4,65%.

Na agenda da semana, destaque para a divulgação de alguns indicadores no hemisfério norte. Nos EUA saem o PMI, os pedidos de bens duráveis e vendas de moradias, que devem mostrar fortes quedas. Na Europa, serão revelados o PMI da zona do euro e do Reino Unido.

Por aqui, as atenções estarão voltadas para o cenário político que envolve a disputa pelo protagonismo da crise. Destaque para a votação da PEC do chamado "orçamento de guerra", que retorna à Câmara dos Deputados após aprovação do texto modificado pelo Senado.

Segue no radar o aumento de casos de contágio pelo "coronavírus" no Brasil. Até agora, são quase 40 mil infectados e 2,5 mil óbitos. Enquanto isso, alguns estados brasileiros prolongam a quarentena por mais alguns dias. O governador João Dória decretou a extensão da quarentena no estado de São Paulo até 10 de maio, enquanto no estado do Rio de Janeiro vai até o dia 30 de abril. Em sentido oposto, alguns estados e municípios brasileiros planejam afrouxar rapidamente as medidas de distanciamento social.

Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-os em "quarentena" esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperar na retomada do mercado. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.


* Aos clientes que investem em Fundos de Participações e Fundos Imobiliários em percentual superior a 2,5% em cada, reduzir a exposição aos Fundos de Ações na proporção desse excesso.


Indicadores Diários -17/04/2020



Índices de Referência - Março/2020