NOSSA VISÃO - 08/09/2020

RETROSPECTIVA

Semana marcada pelo envio da reforma administrativa pelo palácio do planalto, após um grande período apenas na promessa, finalmente houve a concretização e agora há um caminho complexo para se seguir, incluindo aprovação do texto e a disputa por espaço frente a outras reformas em pauta, a reforma tributária por exemplo. 

A reforma administrativa, embora o texto inicial não seja tão agressivo como se esperava pelo mercado, abre o espaço para conversas e discussões com o teor mais técnico a partir de agora, ao exemplo de como o orçamento é afetado, tendo em vista a grande porcentagem direcionada para pagamento de salários e a enorme despesa com o funcionalismo público. 

A total ênfase na reforma administrativa é de certa forma ruim, pois retira o foco da reforma tributária cujo tem o poder de ajustar as contas públicas com maior velocidade e deixa em aberto a situação do ano de 2021. 

Aliás, a semana trouxe a divulgação do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2021, má vista por alguns pontos, já que não contempla recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação)  recentemente aprovado, o Renda Brasil e o programa de investimentos Pró-Brasil. Portanto, não tirou o estresse dos investidores com relação ao teto de gastos e com a LRF (Lei de Responsabilidade fiscal).

Embora saibamos da existência de muitos obstáculos e as dificultosas articulações políticas, o cenário é positivo, inicialmente por colocar finalmente em pauta, discussões de suma importância para o futuro do Brasil, e posteriormente por proporcionar medidas necessárias para auxiliar um avanço econômico no país.

Dentro das definições do governo, o mercado segue volátil, sem uma tendência definida, com a expectativa de melhora e aguardando um horizonte mais claro, para assumir uma postura mais ofensiva. 

Durante a semana, nos EUA, após das convenções partidárias, a diferença de Joe Biden em relação a Trump diminuiu para 7%, anteriormente era de 12%, o que pressupõe um acirramento de posições, até as eleições de 3/11. 

Ainda nos Estados Unidos, o principal dado segue sendo o Payroll (folha de pagamentos não-agrícola norte-americana) de agosto com a criação de vagas nos setores público e privado, aumentando as vagas em 1,37 milhão, dentro da previsão e taxa de desemprego encolhendo para 8,4%. Houve ainda o déficit na Balança Comercial de julho crescendo em 18,9% para US$ 63,6 bilhões, ante a previsão de ficar em US$ 58,6 bilhões.

A semana mostrou também uma forte realização nas bolsas americanas, após semanas anteriores registrarem recordes atrás de recordes, temos uma realização pela frente, principalmente na NASDAQ, onde estão situadas as principais empresas de tecnologia. 

No Reino Unido, segue a dificuldade constante para se firmar acordos comerciais com a União Europeia. Além disso, alguns membros do BOE (Banco Central inglês) não descartam a alternativa de juros negativos, enquanto o BCE (Banco Central Europeu) é pressionado para realizar novos estímulos para a região, diante dos novos dados de atividade e também com a deflação anunciada para o mês de julho.

Já no Japão, surgiu um candidato para ocupar a vaga da renúncia de Shinzo Abe. Yoshihide Suga defende a flexibilização da política monetária, e o BOJ (Banco Central Japonês) parece querer melhorar sua visão da economia, depois dos últimos dados. Entretanto a China quer manter política monetária atual, seguindo com cautela e flexível depois de ter interferido sobre os juros de referência.

Na Europa, no segundo trimestre de 2020, ainda marcado por medidas de contenção COVID-19 na maioria dos Estados-Membros, o PIB corrigido diminuiu 11,8% na Zona do Euro e 11,4% na União Europeia, isso em comparação com o trimestre anterior, de acordo com a Eurostat, o serviço de estatística da União Europeia. Estas foram de longe as maiores diminuições desde o início da observação da série em 1995.


BOLETIM FOCUS

As expectativas expostas no Boletim Focus, que é divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central e traz as expectativas do mercado para os principais indicadores econômicos do país. Hoje, excepcionalmente, foi divulgado na terça, por conta do feriado da Independência, ontem. 

O principal foco foi a mudança na estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto), após nove semanas de consecutivas melhora no indicador, houve uma piora na expectativa do crescimento da economia nacional no fim de 2020.

 A projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) saiu de menos 5,28% para menos 5,31% para este ano. Para 2021, a estimativa permaneceu em 3,50%. As projeções ficaram em 2,50% para 2022 e 2023.

Para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), as projeções mudaram de 1,77% para 1,78%. Para 2021, a previsão para o IPCA foi mantida em 3,00%. Para 2022, as estimativas ficaram em 3,50%. O índice ficou em 3,25% nas projeções para 2023.

A previsão do mercado financeiro para a cotação do dólar ficou em R$5, 25 este ano. Para 2021, a projeção ficou em R$5,00. Já para 2022, a projeção ficou em R$4,90 e ficou em R$4,85 para 2023.

A projeção para a taxa básica de juros, a Selic, ficou em 2,00% para 2020. Para 2021, os analistas mantiveram em 2,88%. As projeções ficaram em 4,50% em 2022 e ficou em 5,75% em 2023



PERPECTIVA 

Nesta terça feira (08) o Ibovespa apresenta queda, puxada pelo novo capítulo nas tensões entre Estados Unidos e China e queda do petróleo, podendo testar novamente a barreira dos 100 mil pontos. 

Na semana passada, o Ibovespa encerrou com valorização de 0,52% e índice em 101.241,73 pontos, com o dólar em contração cotado a R$ 5,3012 enquanto o Dow Jones observou queda de 1,81% e o Nasdaq com -3,27.

O Boletim Focus veio com poucas mudanças em relação ao relatório anterior, a principal revisão foi em relação ao PIB, vindo com uma perspectiva pior após nove semanas. Entretanto, o foco ainda fica por conta dos aspectos políticos.

As declarações eleitorais nos EUA entre Trump e Biden vem pautando a semana, ao ponto que a eleição vem se aproximando, com o acirramento das intenções de votos, o foco fica por conta das declarações dos candidatos, uma vez que passamos por um período de muita sensibilidade política, qualquer deslize pode significar uma mudança considerável nas diretrizes políticas econômicas por lá, impactando diretamente o Brasil. 

O presidente americano, Donald Trump, declarou ontem que proibirá que o governo assine contratos com empresas que terceirizam serviços para a China. Afirmou também que o movimento de "desconexão" econômica entre os dois países é algo "interessante".

Outro ponto é sobre a contaminação pela covid-19 que parece ainda longe de deixar de assustar, muito embora o noticiário indique aceleração de testes da fase três e sucesso na aplicação de vacinas em cobaias humanas, como da vacina chinesa e russa. Outra discussão ocorre em função do pacote de estímulos nos EUA e do acordo de não travar órgãos do governo americano por falta de recursos.

No mercado Asiático, agora com o surgimento de um novo candidato para a vaga de Shinzo Abe. Esperaremos o desenrolar da situação e os reflexos das ideias do candidato Yoshihide Suga sobre a política atual. 

Na região do Euro, após a divulgação dos indicadores econômicos, e a demonstração de resultados ruins como o do PIB, contrasta com resultados dentro do esperado em outras áreas, como indicadores de emprego e importação.

Por aqui, seguimos na esperança de que o governo siga tranquilo e sem conflitos internos, e também com os outros dois poderes (Legislativo e Judiciário). Mas o foco central será novamente a questão fiscal e manutenção do teto de gastos.

A preocupação com o limite dos gastos públicos ainda é pauta, mas agora pelo fato da divulgação da Lei orçamentaria para 2021, não contemplar os programas que auxiliariam uma parte da população brasileira. 

Um possível afrouxamento dos gastos, ou gastos não previstos no orçamento aprovado, além de gerar desconfiança dos investidores estrangeiros, geraria um aumento na taxa de juros e isso não seria bom para o estado da economia atual. 

O mais recomendado para o atual momento é a cautela ao assumir posições mais arriscadas no curto prazo, a volatilidade nos mercados deve se mantem sem ainda a desenhar um horizonte claro, em razão principalmente pelo nosso cenário político.

Mantemos nossa recomendação de adotar cautela nos investimentos e acompanhamento diário dos mercados e estratégias. Mantemos a sugestão para que os recursos necessários para fazer frente às despesas correntes sejam resgatados dos investimentos menos voláteis (CDI, IRF-M1, IDkA IPCA 2A). Os demais recursos mantenham-nos em "quarentena" esperando um melhor momento para realocar. Tomar decisões precipitadas enseja realizar uma perda decorrente da desvalorização dos investimentos sem possibilidades de recuperação na retomada dos mercados. Para aqueles que enxergam uma oportunidade de investir recursos a preços mais baratos, municie-se das informações necessárias para subsidiar a tomada da decisão.



* Aos clientes que investem em Fundos de Participações e Fundos Imobiliários em percentual superior a 2,5% em cada, reduzir a exposição aos Fundos de Ações na proporção desse excesso.


Indicadores Diários - 04/09/2020



Índices de Referência - Agosto/2020